OURO BRANCO

Como a produção de leite transformou a vida de mulheres no Oeste catarinense


Por Andrey Evangelista, Juliane Bee e Pâmila Capelli

"Agro é leite! Agro, a indústria-riqueza do Brasil". Você provavelmente já deve ter ouvido essa frase durante o intervalo de um programa ou então enquanto zapeava pelos canais da televisão. Essencial à alimentação humana, o leite é um alimento produzido em o todo o mundo, desde países desenvolvidos, e suas grandes indústrias, á pequenas propriedades familiares, para consumo próprio. No Brasil, conforme dados da Epagri, representa um dos seis produtos mais importantes da agropecuária, desempenhando um papel essencial na geração de empregos e renda para a população. Mais de quatro milhões de pessoas trabalham indiretamente na área.

Mas engana-se quem pensa que a parceria entre o homem e a produção do leite começou há pouco tempo. Historiadores relatam que essa colaboração data de tempos mais remotos, após o surgimento da agricultura e, a partir dela, a domesticação do gado. As primeiras tentativas aconteceram no Oriente Médio, mais precisamente na Mesopotâmia. O primeiro animal domesticado foi a vaca, em seguida a cabra, e por último, a ovelha, entre 9000 e 8000 a.C. Arqueólogos também encontraram na Itália uma das mais antigas sociedades agrícolas no Mediterrâneo, que remonta à Idade do Bronze, há 3500 a.C, e um filtro de barro, provavelmente utilizado para o escoamento de coalho.

Agora imagine que você esqueceu de pagar a conta de luz. A companhia cortou o abastecimento e você ficou abruptamente sem energia elétrica. No caso, sem geladeira. Tudo estragaria e ficaria impróprio para consumo, né? Bom, durante a Antiguidade e a Idade Média, era assim. Sem geladeira. O leite era consumido na hora, fresco, ou em forma de queijo. Só a partir dos anos 1866, com o invento da pasteurização, o leite começou a ser processado. A partir disso a bebida ganhou um aspecto mais saudável, um tempo de conservação maior e um processamento mais higiênico.

Muitos anos se passaram desde a domesticação desses animais. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), aproximadamente 150 milhões de lares em todo o mundo estão envolvidos na produção leiteira, especialmente pequenos agricultores. A Ásia é a pioneira no setor, seguida da Índia, Estados Unidos, China, Paquistão e, fechando o "Top 5", o Brasil. Apesar de figurar em quinto lugar, o país possui o segundo maior rebanho bovino a nível mundial, ficando atrás apenas da Índia.

A produção leiteira brasileira é baixa se comparada a outros países que ocupam os primeiros lugares do ranking de produção, a exemplo, os Estados Unidos, que conseguem atingir quase 8 mil litros de leite por vaca/ano, enquanto no Brasil, a média alcançada é de 1,5 mil litros vaca/ano. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, o país produziu 35,17 bilhões de litros de leite, destes, 12,4 bilhões de litros vieram da região Sul.


"Aproximadamente 150 milhões de lares em todo o mundo estão envolvidos na produção leiteira, especialmente pequenos agricultores " 

Dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations 


Do sul para o mundo

HERANÇA FAMILIAR QUE GERA LUCRO

O Sul do país é responsável por 34,7% da produção de leite do país | Foto: Juliane Bee
O Sul do país é responsável por 34,7% da produção de leite do país | Foto: Juliane Bee



Quando se pensa na região Sul, quem é de fora costuma dizer: Floripa, Festa do Pinhão, Chimarrão e frio. Clássicos. Pois é, mas além disso, o três estados também se destacam pelo sistema de produção familiar, uma herança deixada pelos colonizadores europeus que aqui chegaram há muitos anos. A produção de leite é uma das principais fontes de renda da população e, juntos, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina são responsáveis por 34,7% da produção de leite do país. O número consolida a região como a maior bacia leiteira do país.

Um levantamento da Epagri identificou que o leite é a atividade agropecuária que mais cresce em Santa Catarina, envolvendo mais de 45 mil produtores. Com um crescimento de 1,76% de 2015 para 2016, a produção leiteira do estado só fica atrás de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, que figuram entre os maiores produtores nacionais. Há dez anos, o estado produziu 1,7 bilhão de litros e, em 2016, foram 3,1 bilhões de litros, um crescimento de 82%. No primeiro semestre de 2017 foram vendidos aos laticínios 5,87 bilhões de litros de leite, nesta mesma época, no ano anterior, foram comercializados 5,86 bilhões de litros que significa um aumento de 0,1%.

A galinha dos ovos de ouro é a região Oeste catarinense que, sozinha, corresponde a 76% de todo o leite produzido: quase 2,4 bilhões de litros. Em declaração oficial, o ex-secretário da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina, Moacir Sopelsa, afirmou que "o setor leiteiro é um grande destaque do estado, que vem passando por grandes transformações, como o investimento em pastagens, tecnologias e genética". A produção é responsável pela geração e distribuição de renda para mais de 60 mil produtores, destes, em sua maioria, pequenas propriedades de agricultores familiares.

Região Sul produz mais que a Argentina


Sim. É verdade. A região Sul do país produz hoje mais leite do que a Argentina. Os dados foram divulgados em março pela organização do simpósio Interleite Sul, antecipando o tema da edição deste ano, que será realizada na cidade de Chapecó, Santa Catarina. Conforme o levantamento, em 17 anos a região Sul cresceu em média 6,0% ao ano, representando quase 52% do acréscimo da produção do País. Quando comparamos com a produção dos nossos hermanos, no mesmo período a Argentina cresceu apenas 303 milhões de litros. Os três estados juntos somaram mais de 7 bilhões de litros, ou seja, 23 vezes mais. Hoje, o Sul produz 12 bilhões de litros/ano, contra 10,1 bilhões da Argentina

Diversos fatores contribuem para esse fenômeno, como explica o CEO da AgriPoint, uma das empresas patrocinadoras do evento, Marcelo Pereira de Carvalho. Em entrevista ao portal Suino.com, ele destaca a estrutura fundiária, baseada em pequenas propriedades nas quais existem uma tradição com produção animal, a presença de cooperativas e a organização social da região. "Enquanto o crescimento nas demais regiões é muito mais o  fruto do empreendedorismo individual, no Sul, o avanço é realmente coletivo", comenta.

Agricultura familiar no Brasil


A agricultura familiar é diferente dos outros meios de produção. Ela é caracterizada pelo amor à terra, que passa de geração à geração. Ainda criança, os filhos costumam acompanhar os pais no campo, aprendendo desde pequenos a importância e o valor do trabalho. Os produtos produzidos em casa servem tanto para consumo próprio e também para a venda, gerando uma renda. Uma pesquisa da Embrapa apontou que a agricultura familiar está presente em quase 85% das propriedades rurais do Brasil. 

Para a Constituição Brasileira, materializada na Lei nº 11.326 de julho de 2006, um agricultor é aquele que desenvolve atividades econômicas no meio rural e que atende alguns requisitos básicos, como por exemplo: não ter uma propriedade rural maior que quatro módulos fiscais e possuir a maior parte da renda familiar das atividades agropecuárias desenvolvidas no estabelecimento rural.

No ano de 2006, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou o Censo Agropecuário Brasileiro, e verificou a força e a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos no país. De acordo com os dados, aproximadamente 84,4% dos estabelecimentos agropecuários do país se caracterizavam por ser agricultura familiar. Ao todo, eram 4,36 milhões de estabelecimentos agropecuários.

A região Nordeste figurava em primeiro lugar, com metade do total dos estabelecimentos familiares: 2.187.295. Nela, os estabelecimentos familiares representaram 89% do total dos estabelecimentos e 37% da área total. Já a região Sul abrigava apenas 19,2% do total dos estabelecimentos familiares: 49.997. Nela, os estabelecimentos familiares representaram 84% do total de estabelecimentos e também 37% da área total.

Conheça a história de mulheres que tiveram suas vidas transformadas pelo leite: 

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Juliane Bee - julianebee@unochapeco.edu.br
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