Amor enraizado

"Eu tentei morar na cidade, mas quase enlouqueci. 
Faltava tudo. Faltava minha liberdade"


Quem vê Ana Evangelista cuidando de seus afazeres diários, nem imagina que ela já está no auge de seus  62 anos. Desde pequena a agricultora trabalha na roça.  Com os olhos cheios de lágrima, ela conta que seu pai costumava a levar junto para capinar e cuidar da plantação. "Lembro como se fosse hoje, eu sentada dentro de um cesto de vime olhando ele trabalhar". Ela sentia orgulho do pai. Queria ser como ele. Logo, assim que aprendeu a caminhar, passou a usar a enxada, seguindo o exemplo do pai. Como iniciou cedo a ajudar em casa, não havia  tempo - e nem como - estudar. Analfabeta, ainda jovem casou e saiu de casa. "Saiu debaixo das asas dos pais", como conta.

Ao longo de sua vida, teve seis filhos: quatro homens e duas mulheres, todos criados na agricultura. Nascida no interior de Seara, município próximo a Chapecó, Ana mora hoje na Linha Ervalzinho, em Xaxim. Em suas lembranças, todas são coloridas pelo verde do campo. Quase toda sua vida morou na roça, entretanto, precisou passar uns tempos na cidade grande. Não aguentou, precisou voltar. Baixinho, ela confessa que sentia falta da liberdade. Estava quase enlouquecendo. Seu hobby era cuidar das galinhas, e ela não podia fazer isso em um apartamento.

A lida com as vacas ficou no passado, hoje a agricultora prefere suas galinhas | Foto: Andrey Evangelista
A lida com as vacas ficou no passado, hoje a agricultora prefere suas galinhas | Foto: Andrey Evangelista

Por conta da lida diária durante anos, hoje ela sofre com dores e problemas causados pelo trabalho braçal. Mesmo afastada dos afazeres mais pesados, ela não deixa de lado seus animais. "Sempre tive minhas vaquinhas e galinhas. Quando me mudava, levava elas sempre comigo", conta. No começo da vida, a produção de leite era responsável pela renda da família. O tratamento com as vacas era o mesmo de um filho.

"Eu sabia o nome de todos meus bichinhos, tratava com muito amor e carinho. Naquela época não tinha muitos  medicamentos, então se eles ficassem doentes, eu mesmo fazia os remédios."

Durante anos, Ana morou no interior de Xanxerê, município vizinho de Xaxim. Na cidade, era conhecida pelas mãos talentosas. Nos fins de semana e feriados, lá estava ela, catando ovos, cozinhando uma galinhada, fazendo queijo e descascando mandioca. Quando tudo estava pronto, entrava em cena seu marido, Alberto. Assim como Ana, ele também era conhecido. Todos o chamavam de seu Gaúcho. Com traje para honrar o apelido, ele encilhava seu cavalo, engatava o animal na charrete e ia fazer as entregas dos produtos. A produção realmente era artesanal, e para dois aposentados, a renda extra ajudava.

A idade chegou e ela não conseguia mais cuidar da produção de leite. O trabalho passou para sua filha do meio, Luciana. A única dos seis filhos que continuou na agricultura. O leite, que fez parte de sua vida, agora fazia parte da vida da filha. Mas isso é outra história. 


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Juliane Bee - julianebee@unochapeco.edu.br
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